A escola hoje e os alunos que não aprendem.

26 de outubro de 2012

A educação brasileira está em crise. Além da recorrente violência escolar –a imprensa noticia com frequência casos de alunos armados ou com drogas, além de agressões a professores–, pais e filhos parecem achar que a escola não pode contrariar os alunos ou exigir desempenho.  As próprias famílias não conseguem impor limites aos filhos — às vezes, nem os pais têm limites–, algo que se espraia à sala de aula.

Esse problema, que está se tornando quase epidêmico no Brasil, não é desconhecido em outros países. Neste momento, vale lembrar um livro francês que nunca foi muito divulgado no Brasil. Para quem está preocupado com a situação das escolas, vale ler “A Escola dos Bárbaros”, de Isabelle Stal e Françoise Thom, publicado no Brasil pela Edusp ainda em 1987, apontando um cenário que só se agravaria no Brasil nas décadas seguintes.

As autoras são duas professoras francesas que contam a degradação que viam surgir nas escolas daquele país já na década de 1980. Os problemas que elas enxergaram nunca soaram tão familiares. Elas consideram que a falta de disciplina nas escolas reflete uma sociedade que “adota o prazer como o ideal, em todas as direções — para tal sociedade, o objetivo da civilização é se divertir sem limites”. Ou seja, a escola desistiu de conduzir os jovens à vida adulta.

Nesse sentido, as autoras acertam em cheio ao apontar a profusão de práticas extracurriculares, fáceis e sem conteúdo, que servem para matar o tempo do jovem, como um dos grandes problemas da escola de hoje em dia. Os pais brasileiros podem reconhecer com facilidade essa moda dominando também as nossas escolas.

Nas palavras das autoras: “É uma enganação afirmar que a inaptidão para expressar-se, que a ignorância crassa em história, em geografia, em literatura e a incapacidade em seguir um raciocínio elementar” sejam um preço que tenhamos de pagar para que todos se sintam à vontade na escola, permitindo a “inclusão” de todos os alunos.

Sob o pretexto de instaurar na escola a igualdade, o ensino é nivelado por baixo. Não há como escrever melhor do que elas: “A ambição da igualdade a todo preço desencoraja o esforço de aprender, tipicamente individual”.

Não se pode abandonar o ensino de conteúdo ou deixar que os alunos escolham o que querem aprender. É possível incluir todos os alunos na escola –isto é, democratizar o ensino, criando uma escola que atenda à massa– sem a atual catástrofe. Além dessas teses, as autoras criticam, com muita dureza, pedagogos, professores, administradores, sindicatos de professores e a nova geração de pais.

Os sindicatos, especialmente, estão mais preocupados em defender a mediocridade e o corporativismo. Eles apontam soluções simplistas para todos os males que afligem o ensino básico, como o aumento dos orçamentos ou ações tecnológicas nas escolas. Isso sem falar nas ideologias que banalizam o ensino, como se o papel principal da escola não fosse tirar o aluno da ignorância.

O livro pode ser ácido e ter adjetivos em excesso. Pode até ser injusto com relação à importância de democratizar o acesso à educação, algo fundamental para diminuir as injustiças da sociedade. Mas ele é preciso ao defender a destruição de alguns paradigmas tão em moda no Brasil, como:

– A qualidade inquestionável e universal do trabalho em grupo;

– A “postura crítica” sobreposta à absorção de conhecimento;

– A frouxidão e a permissividade em vez de disciplina e cobrança;

– A prioridade das atividades “sociais” em vez do estudo persistente;

– A valorização dos pesquisadores de banalidades;

– A ênfase nas metodologias em vez dos conteúdos.

Vale a reflexão: quantas gerações de alunos serão prejudicadas até o estudo persistente e o conteúdo voltarem a ser valorizados?

Sílvio Roberto Leal Lobo Silva Filho  






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