De cabelos loiros e bagunçado, ternos largos e amarrotados, temperamento explosivo com tons jocosos. Seria Donald Trump? Pior. O Reino Unido acaba de eleger seu Primeiro Ministro, Boris Johnson no último dia 24. Líder do Partido Conservador, o maior do parlamento inglês, assumiu esse posto após a saída da segunda mulher a ocupar esse cargo na história do Grã-Bretanha, a sua colega de partido Theresa May depois do fracasso nas negociações do brexit.
O presidente americano celebrou a ascensão de Johnson a chefia do governo britânico qualificando-o como “um Trump britânico”. Newt Gingrich, o direitista ex-líder parlamentar inigualável para os caricaturistas diz, “pense em Margaret Thatcher com cabelo indomável”.
O próprio Johnson exibe-se como um “modernizador do thatcherismo”, mas como ele mesmo fala, “meu herói é Winston Churchill”. De qualquer modo, na carruagem retórica do brexit, os dois mais célebres chefes de governo conservadores do século 20 foram recrutados como ícones da cisão britânica com a União Europeia (UE). Boris Johnson prometeu que seu governo marcará o “início de uma nova idade do ouro”.
A “idade do ouro” do Império Britânico tinha ficado para trás quando Churchill dirigiu sua áspera crítica a Attlee (premiê inglês que sucedeu Churchill após a segunda grande guerra). O brexit obedece a dois comandos ideológicos. De um lado, veicula uma nostalgia imperial: o desejo de retroceder o relógio à “idade de ouro”. De outro, exprime o nacionalismo xenófobo de uma Inglaterra insular, avessa ao cosmopolitismo e à imigração. Na base da ruptura com a União Europeia encontra-se a crise geral do sistema político britânico e a crise singular que ameaça desmantelar o Partido Conservador.
O que Johnson já sinalizou, é que a saída do Reino Unido da União Europeia poderá ser efetivada mesmo sem um acordo ser firmado com o bloco (conhecido com hard brexit) o que pode apresentar consequências econômicas avassaladoras para o país da rainha a curto prazo. Aparentemente, o atual premiê está ciente do caos e não pensa em medir esforços para o divórcio ser efetivado até o dia 31 de outubro.
Com argumentos que o Reino Unido possa está livre de amarras econômicas de instituições internacionais e de acordos empresariais que limitam a sua capacidade de negociação por causa da UE, os planos de Boris Johnson parecem parar por aí. Sem apresentar nenhuma grande medida acerca de como o seu governo possa reagir aos problemas que o brexit trará.
Dos problemas mais iminentes, vale destacar as fronteiras entre a República da Irlanda e Irlanda do Norte. A primeira, que não faz parte do Reino Unido e permanecerá na União Europeia, porém, a segunda, que pertence Grã-Bretanha, deixará o bloco, o que torna a fronteira por terra a principal fronteiras entre os dois.
Essa região fronteiriça coloca em xeque o Acordo de Belfast, que diz não haver fronteiras entre as duas irlandas. A solução do Boris Johnson seria de manter a Irlanda do Norte na união aduaneira com a UE, enquanto que as fronteiras ficariam abertas, porém será criado uma fronteira interna no Reino Unido. Neste caso, empresas de pequeno e médio porte, encontrada com a crise que com certeza assombrará o Reino Unido nos próximos meses ou anos, sentirá a necessidade de comercializar com a UE via essas fronteiras, o que pode ser um grande problema para a evolução econômica britânica.
Matheus Macedo é formado em Fisica pela UERJ e aluno de mestrado em Sistemas Inteligentes pela UERJ. Tem experiência na área de Física de Altas Energias e Inteligencia Artificial. Atualmente, tem se dedicado ao concurso de admissão a carreira de diplomatas (CACD) do Ministério das Relações Exteriores.