O Mundo não acabou, mas o ano sim.

30 de dezembro de 2012

Até Einstein, tudo nascia e morria no Universo, menos o próprio Universo. Einstein entendia o Universo como eterno, enquanto os seres que o habitam seriam provisórios. Mas, em 1927, o padre católico Georges-Henri Lemaître, físico e astrônomo, propôs um Universo com origem. Gamow, Friedman e Edwin Hubble formularam equações que demonstravam o nascimento do Universo a partir de uma grande explosão inicial. Em 1929, Hubble concluiu que o Universo está em expansão a partir de um ponto de origem, o conhecido big-bang.

Assim, também o Universo ganhou uma história em consonância com a concepção linear de tempo consolidada pela tradição judaico-cristã-muçulmana. Há um ponto original denso de energia, a fase de expansão e a morte do Universo. Nada mais passou a ser eterno no mundo da matéria. É fácil constatar que os seres vivos nascem e morrem. Mais difícil é observar que as espécies morrem. Hoje, talvez não tanto, pois a civilização ocidental e ocidentalizada está extinguindo espécies com incrível velocidade. O grande paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould calculava um tempo aproximado de 10 milhões para a vida de uma espécie em estado normal.

Fica difícil também perceber as extinções em massa na história da Terra sem recorrer à paleontologia. Pelo menos, cinco grandes cataclismos abalaram o planeta em que vivemos. Na Era Paleozoica, em que se constituíram as espécies pluricelulares, com duração aproximada entre 560 e 250 milhões de anos, três crises foram arrasadoras. A maior delas – a última da Era – ocorreu no fim do Período Permiano. A vida quase desapareceu, tamanha a intensidade.

No Cretáceo, segunda era da história da vida pluricelular, duas crises abalaram o planeta. A primeira, no fim do Período Triássico, liquidou cerca de 35% de famílias animais. A segunda, no fim do Cretáceo e a mais famosa de todas, aniquilou os dinossauros. Agora, pela primeira vez na história da Terra, estamos assistindo a mais uma extinção em massa, esta causada por uma única espécie operando coletivamente: o “Homo sapiens”.
A dificuldade de compreensão sobre origens aumenta à medida que recuamos no tempo. Só mesmo a astronomia para mostrar que a Terra nasceu em torno de quatro bilhões e quinhentos milhões de anos. Assim também os outros planetas do sistema planetário em que vivemos e o Sol, estrela em torno da qual giram planetas e satélites. Retornando a um tempo inimaginável de quase quatorze bilhões de anos, nasceu o Universo.

Tudo que nasce morre. Calcula-se que a Terra viverá por mais cinco bilhões de anos, quando o Sol, na sua expansão, a engolirá. Antes disso, os oceanos terão sido evaporados e a vida completamente extinta. Os últimos a sair do planeta serão aqueles seres que o habitaram primeiro: os organismos unicelulares. Por esta perspectiva, o Universo também deve falecer, a menos que o se comprove estarmos num multiverso, como propõem Edgar Morin (um não astrônomo) e o físico brasileiro Marcelo Gleiser. Segundo eles, pode haver outros universos para além daquele que conhecemos. Muitas descobertas ainda estão por ser feitas.

Recentemente, escapamos do fim previsto pelos maias, povo que formou uma pujante civilização na América Central. Eles eram grandes observadores de astros e construíram o calendário mais aprimorado que a humanidade concebeu até o século XIX. Como tinham uma visão cíclica do tempo, tal qual a maioria das culturas humanas, os maias previram uma grande mudança no dia 21 de dezembro de 2012. Não se tratava do fim do mundo, mas do fim de um ciclo. O mundo não acabou, como muitos místicos e charlatães propalaram. Nem mesmo o fim de um ciclo pôde ser percebido.

Recentemente, em entrevista, José Funes, diretor do Observatório Astronômico do Vaticano, declarou que o fim do mundo não chegou por enquanto. Ele esclareceu, com propriedade, que os maias eram grandes observadores e que tinham uma concepção cíclica do tempo, bem diferente do cristianismo, cuja visão de tempo é linear, expansiva, teleológica e finalista. Em suas palavras, “A astronomia nos mostra que o Universo caminha rumo a um estado final de frio e escuridão. Já a mensagem cristã nos ensina, pelo contrário, que, na ressurreição final, Deus reconstruirá cada homem, cada mulher e todo o Universo.”
Todos os povos têm mitos. Os cristãos também. Creio que a ciência, embora se considere desmistificadora de mitos, não conseguiu se livrar totalmente deles.

É sintomático que um padre esteja na origem da concepção do big-bang. Aos olhos de um agnóstico, como é o meu caso, todos os mitos se equivalem. Todos eles merecem respeito. Nem os ateus nem os agnósticos estão livres deles.

Até Einstein, tudo nascia e morria no Universo, menos o próprio Universo. Einstein entendia o Universo como eterno, enquanto os seres que o habitam seriam provisórios. Mas, em 1927, o padre católico Georges-Henri Lemaître, físico e astrônomo, propôs um Universo com origem. Gamow, Friedman e Edwin Hubble formularam equações que demonstravam o nascimento do Universo a partir de uma grande explosão inicial. Em 1929, Hubble concluiu que o Universo está em expansão a partir de um ponto de origem, o conhecido big-bang.Assim, também o Universo ganhou uma história em consonância com a concepção linear de tempo consolidada pela tradição judaico-cristã-muçulmana. Há um ponto original denso de energia, a fase de expansão e a morte do Universo. Nada mais passou a ser eterno no mundo da matéria. É fácil constatar que os seres vivos nascem e morrem. Mais difícil é observar que as espécies morrem. Hoje, talvez não tanto, pois a civilização ocidental e ocidentalizada está extinguindo espécies com incrível velocidade. O grande paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould calculava um tempo aproximado de 10 milhões para a vida de uma espécie em estado normal.
Fica difícil também perceber as extinções em massa na história da Terra sem recorrer à paleontologia. Pelo menos, cinco grandes cataclismos abalaram o planeta em que vivemos. Na Era Paleozoica, em que se constituíram as espécies pluricelulares, com duração aproximada entre 560 e 250 milhões de anos, três crises foram arrasadoras. A maior delas – a última da Era – ocorreu no fim do Período Permiano. A vida quase desapareceu, tamanha a intensidade.

No Cretáceo, segunda era da história da vida pluricelular, duas crises abalaram o planeta. A primeira, no fim do Período Triássico, liquidou cerca de 35% de famílias animais. A segunda, no fim do Cretáceo e a mais famosa de todas, aniquilou os dinossauros. Agora, pela primeira vez na história da Terra, estamos assistindo a mais uma extinção em massa, esta causada por uma única espécie operando coletivamente: o “Homo sapiens”.
A dificuldade de compreensão sobre origens aumenta à medida que recuamos no tempo. Só mesmo a astronomia para mostrar que a Terra nasceu em torno de quatro bilhões e quinhentos milhões de anos. Assim também os outros planetas do sistema planetário em que vivemos e o Sol, estrela em torno da qual giram planetas e satélites. Retornando a um tempo inimaginável de quase quatorze bilhões de anos, nasceu o Universo.

Tudo que nasce morre. Calcula-se que a Terra viverá por mais cinco bilhões de anos, quando o Sol, na sua expansão, a engolirá. Antes disso, os oceanos terão sido evaporados e a vida completamente extinta. Os últimos a sair do planeta serão aqueles seres que o habitaram primeiro: os organismos unicelulares. Por esta perspectiva, o Universo também deve falecer, a menos que o se comprove estarmos num multiverso, como propõem Edgar Morin (um não astrônomo) e o físico brasileiro Marcelo Gleiser. Segundo eles, pode haver outros universos para além daquele que conhecemos. Muitas descobertas ainda estão por ser feitas.
Recentemente, escapamos do fim previsto pelos maias, povo que formou uma pujante civilização na América Central. Eles eram grandes observadores de astros e construíram o calendário mais aprimorado que a humanidade concebeu até o século XIX. Como tinham uma visão cíclica do tempo, tal qual a maioria das culturas humanas, os maias previram uma grande mudança no dia 21 de dezembro de 2012. Não se tratava do fim do mundo, mas do fim de um ciclo. O mundo não acabou, como muitos místicos e charlatães propalaram. Nem mesmo o fim de um ciclo pôde ser percebido.

Recentemente, em entrevista, José Funes, diretor do Observatório Astronômico do Vaticano, declarou que o fim do mundo não chegou por enquanto. Ele esclareceu, com propriedade, que os maias eram grandes observadores e que tinham uma concepção cíclica do tempo, bem diferente do cristianismo, cuja visão de tempo é linear, expansiva, teleológica e finalista. Em suas palavras, “A astronomia nos mostra que o Universo caminha rumo a um estado final de frio e escuridão. Já a mensagem cristã nos ensina, pelo contrário, que, na ressurreição final, Deus reconstruirá cada homem, cada mulher e todo o Universo.”
Todos os povos têm mitos. Os cristãos também. Creio que a ciência, embora se considere desmistificadora de mitos, não conseguiu se livrar totalmente deles. É sintomático que um padre esteja na origem da concepção do big-bang. Aos olhos de um agnóstico, como é o meu caso, todos os mitos se equivalem. Todos eles merecem respeito. Nem os ateus nem os agnósticos estão livres deles.

Arthur Soffiati – escritor, professor universitário e ambientalista.






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Jornalista responsável Nelzimar Lacerda | Registro profissional DRT/RJ 29740