Opinião: A República da ignorância.

6 de agosto de 2013

Há vinte anos, o Jornal Folha de São Paulo traçou um diagnóstico alarmante sobre a educação nacional numa série de reportagem com o título acima.  O ensino no país mudou muito desde então, mas ainda não se pode dizer que a invectiva seja desmerecida –como transparece das deficiências da carreira docente retratadas no caderno especial “Quem Educa os Educadores?”, publicado anteriormente.

Cerca de 460 mil dos 2,1 milhões de professores de educação básica nem sequer têm o diploma de nível superior requerido por lei (pedagogia ou licenciatura). Para satisfazer a exigência, proliferaram os cursos à distância. Predominam as críticas ao caráter teórico das escolas de pedagogia, mas 68% dos formandos consideram que elas os capacitam amplamente para o exercício profissional. Entre coordenadores dos cursos, 61% discordam de que o currículo poderia ser melhorado.

Os avanços da educação, até aqui, se deram no acesso. Com 98,2% da população de 6 a 14 anos na escola, a frequência no ensino fundamental foi virtualmente universalizada. No aspecto da qualidade, contudo, o país fica bem aquém do necessário para que cada brasileiro se torne um cidadão autônomo e um trabalhador capaz. No fim do ensino fundamental (escolaridade obrigatória), só 27% dos alunos alcançam o nível de aprendizado desejável em português e meros 17% em matemática.

Muito se discutiu e tergiversou, já, sobre as causas desse fracasso. Passou da hora de focalizar a atenção na peça-chave do aprendizado –o professor. Profissionais preparados e bem remunerados são condição “sine qua non” para o aluno aprender o que deve. Isso não implica responsabilizar só os professores pela má qualidade do ensino. Assim como os alunos, eles são herdeiros da incúria que assola o setor há decênios.

Não será fácil romper o ciclo vicioso. A criação do piso nacional (R$ 1.567) foi um progresso, mas ele ainda é desrespeitado por prefeitos e governadores e fica abaixo do salário médio no país. Como o Estado brasileiro perdeu a capacidade de investir até no essencial, não haverá melhoras significativas no curto e médio prazos. Os melhores talentos seguirão refratários ao magistério.

É possível, todavia, aperfeiçoar os cursos de formação de docentes e capacitar os que já se diplomaram. Para isso, será imprescindível romper a noção de que a ênfase em resultados e eficácia não passa de um “estratagema neoliberal”. Não é. A solidariedade com as crianças e os jovens, hoje, impõe reconhecer que o sistema está fracassando e que as faculdades não formam os educadores de que o país necessita, pois dedicam somente 10% de seus cursos para ensinar o que comprovadamente funciona em sala de aula.

Editorial – Folha de São Paulo  






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