Um breve histórico sobre o antigo cinema da cidade cujo prédio é da década de 50

27 de agosto de 2018

Eis o antigo cinema de São Fidélis, o qual se chamava cine Santo Amaro, inaugurado no início da década de 50, cujo projeto arquitetônico foi obra de Oscar Niemayer. Idealizado por Amaro Alexandre, empresário do ramo de café, de modo ainda com uma visão cultural pensou no grande empreendimento para a cidade. O cinema foi construído para capacidade de 800 lugares, além de ter sido também o teatro da cidade, sendo ainda o local que sediou os festivais de música realizados na década de 70, onde o evento contou com as presenças de vários artistas e cantores, entre eles, Jerry Adriane, Elke Maravilha, o ator Jerônimo e etc.

Segundo José Maria Coelho, filho do falecido poeta Jayme Coelho que, inclusive, tinha uma bombonier dentro do cinema para vender balas e bombons nos dias de cine, festivais e apresentações de peças teatrais. Narra seu filho que, no dia da inauguração houve uma grande festa na cidade, e o primeiro filme exibido foi ‘Capitão América’.

A desativação se deu por conta de uma série de fatores, levando-se em conta que, após a morte do senhor Amaro Alexandre, as questões burocráticas começaram a surgir entre familiares com relação ao inventário. Com isso, o prédio foi posto à venda, e até hoje o antigo cinema encontra-se fechado. Vale ressaltar que parte da sua fachada, como, por exemplo, a calçada (vide imagens) sofreu modificação, o que descaracterizou parte do seu glamour.

O antigo cinema soma passagem por três proprietários do prédio local, assim como já foi alugado até para uma igreja e, atualmente, encontra-se fechado. No final da década de 90, houve rumores de tentativa em reativar o cine, porém sem sucesso. Não se sabe se na época houve interesse ou não por parte do proprietário em oferecer alguma proposta em parceria com algum órgão de governo para a revitalização do cine.

Segundo José Maria, os filmes vinham de Taubaté/SP – nos vagões do trem com uma semana de antecedência para serem exibidos. Todo o processo de exibição era feito através de latas redondas parecidas com pneus e eram movimentadas através de carvão. Embora o prédio do antigo cinema não seja um prédio público e tombado como patrimônio histórico, mas, essencialmente, possui um valor histórico na localidade pelo que ele representa como espaço de interação sociocultural.

Quando as pessoas que frequentavam o cinema de São Fidélis dão depoimentos sobre os bons tempos que elas vivenciaram – percebe-se um forte grau de saudosismo e o desejo de que esse tempo pudesse voltar. São lembranças relatadas por elas de toda ordem e consideradas inesquecíveis. E hoje passa um filme na memória de todos que ainda se encontram vivos ao relembrar dos bons tempos de lazer e entretenimento quando no cinema parte de suas histórias são lembradas e/ou ficaram marcadas.

Por que a implantação de novas salas ainda é considerada baixa na Região?

Segundo informações da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, sempre houve interesse da gestão municipal para que a sala de projeção em 3D já estivesse pronta. Entretanto, com relação ao governo estadual, responsável pela oferta da construção do novo cinema em 3D parece não ter havido interesse, visto que já são quase dois anos que a gestão municipal acionou a secretaria de Estado de Cultura, para que o projeto de construção saísse do papel.

Com base nas últimas informações e contatos que a atual administração municipal tem e passou para a reportagem, dão conta de que o governo estadual informou que a deliberação da verba para iniciar as obras da sala de cinema em 3D anexo ao prédio do Ginásio Poliesportivo – localizado no bairro Coroados já está em andamento.

Dessa forma, a solicitação para que se iniciem as obras ainda em 2018, só está na dependência da Caixa liberar o dinheiro.  O Município está esperando, tendo em vista que é uma obra conveniada, bem como importante para a municipalidade em face do valor sociocultural que uma sala de projeção moderna ofereceria para a população tal como um espaço de lazer e entretenimento.

Já com relação à implantação de novas salas de projeção não ter dado certo na Região, há de se considerar que, desde o advento do videocassete e demais formatos de mídia para facilitar qualquer pessoa a assistir filmes sem precisar sair de casa, fez com que a ideia não ganhasse coro.

A própria internet difundiu maciçamente com novas plataformas digitais, onde se pode baixar filmes, e com isso contribuiu de forma significativa para que as pessoas não mais procurassem de forma maciça pelos cinemas. Dessa forma, tais modalidades levaram as pessoas a se isolarem, enquanto que o cinema é/era uma forma de reunir as pessoas e socializá-las através do entretenimento, subsidiando-se a criação de vínculos, laços de amizades, contatos e etc.

Em 2006, o governo do estado, através da Superintendência do Audiovisual – lançou o “Projeto Oscarito”, o qual subsidiou a construção de salas de cinemas em diversos municípios do estado, e assim sendo São Fidélis foi contemplado para suprir essa lacuna e/ou ausência de uma sala de projeção.  Porém, como o governo já havia determinado que essas salas tivessem os nomes de figuras importantes e destacadas nas artes cênicas e de notoriedade do cinema brasileiro, neste caso, em São Fidélis foi diferente e justo porque o gestor municipal na época – sugeriu que a sala tivesse o nome de uma pessoa da localidade, visto ser São Fidélis com seu referencial “Cidade Poema”.  E assim foi escolhido nome de Jayme Coelho, por ter sido poeta e parte do movimento no dia a dia do antigo cine da cidade. Com isso, o Cine Teatro construído nessa parceria com o governo do estado recebeu o seu nome por conta dessa sugestão e mobilização local.

A importância da revitalização do cine na cidade

O cinema tem essa magia e poder de levar não somente o entretenimento, mas agregar uma série de valores socioculturais. O cine une as pessoas de modo a propiciar um canal de interatividade, vivências, reflexões e interpretações afins.  Dado esses aspectos, é importante ressaltar que os filmes são produtos culturais e/ou bens simbólicos.

Sendo assim, as pessoas quando saem de casa para irem ao cinema, elas têm motivações e emoções subjetivas, além do interesse pelo filme ou história que esse produto irá lhe proporcionar, assim como o local por agregar outros valores, nuances.  Ou seja, é um efeito cadeia aliado a outras ofertas, oportunidades afins. Fato este justifica porque a maioria dos shoppings têm salas de cinema quando se tornaram um espaço não só comercial, mas de entretenimento também.

Portanto, pensar numa sala de projeção bem planejada, estruturada e dinamizada, seria o mesmo que em cada bairro da cidade, a população pudesse contar com uma praça bem cuidada, com área de lazer para diversas atividades e interação.  De tudo um pouco, a revitalização influencia não somente na questão comercial, mas, sobretudo, no estado sensorial e cultural das pessoas.

Por Nelzimar Lacerda






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