Os temporais que caíram nas últimas semanas já deixam marcas de destruição em São Fidélis e demais cidades vizinhas, entre elas, Cambuci. No último fim de semana, com a tromba d’água que caiu com rajadas de vento forte e relâmpagos, um rastro de destruição foi presenciado com queda de parte do calçadão da orla Euclides da Cunha, moradores dos bairros Barão de Macaúbas, Penha, Montese, Barreiro, rua Duque de Caxias, Ipuca, Coroados e centro tiveram suas casas invadidas pela água. Até repartições públicas, entre elas, a sede da secretaria do SUS na rua Sacramento ficou tomada de água. Ainda, nem o cemitério escapa das enxurradas atualmente – haja vista que, historicamente, o local em que foi construído em 1875, era uma área pantanosa, porém, como a cidade era menos povoada, não havia o boom das construções ao redor, de modo outro que não se pensou de fato no crescimento da cidade de forma ordenada, o que acabou acontecendo de forma desordenada.
Em face das últimas semanas sobre a situação ocorrida com os fortes temporais, levou a prefeitura municipal a decretar estado de emergência na terça-feira (3) e a limpeza seguia no decorrer da semana até que na tarde de sexta-feira (5) volta a chover fortemente e novos alagamentos ocorreram – deixando, assim, diversos moradores das localidades já castigadas em situação de transtorno.
Considera-se que, se esse período se estender para o mês todo de dezembro e janeiro, provavelmente, o que já estava ruim poderá ficar ainda pior, e o município poderá entrar em estado de calamidade pública, pois o saldo de prejuízos já observados é bastante preocupante e demandará tempo e recursos para que as áreas que foram destruídas novamente possam ser reconstruídas.
Por que São Fidélis passou a sofrer tanto com alagamentos nos últimos 30 anos?
De acordo com diversas pontuações e estudos analisados em relação à situação da geografia da cidade de São Fidélis, não precisa ser diplomado em engenheiro ambiental ou urbanista para entender o que tem ocorrido ao longo das últimas três décadas. Três fatores entram nesta análise:
1- A devastação ambiental que vem ocorrendo há décadas com o desmatamento e outros fatores a mais têm sido algo assustador, assim como a ocupação irregular do solo urbano, ou seja, se parar para observar como eram as encostas dos valões da Esperança que corta pelo bairro Coroados (aliás, tomava-se banhos nestes valões no verão e era uma festa), e o valão Catarina que corta pelo centro. Sendo assim, há quarenta anos, qualquer um que vivenciou e conhece bem a história local, poderá fazer uma comparação como a expansão urbana irregular (para não dizer criminosa) se deu com as construções de casas ao redor dessas áreas dos córregos. No Coroados, por exemplo, parte do valão foi invadido, aterrado e até loteados. Pode isso? Mas, infelizmente, ocorreu sob a omissão do próprio poder público nas gestões passadas – por faltarem com o rigor da fiscalização que deveria ter sido atuante.
2- A cidade jamais poderia receber asfaltamento da maneira que recebeu, isto é, há vinte e cinco anos aproximadamente, um asfaltamento sobre calçamento sem nenhuma infraestrutura. Como uma casca de asfalto sobre pedras iria se firmar? Não foi avaliado o impacto ambiental mesmo porque esse tipo de pavimentação da forma que foi feita – levando-se em conta que a geografia da cidade é montanhosa (cercada por morros e com diversas cabeceiras d’águas e cachoeiras) e clima quente. Teria que se pensar em galerias muito bem projetadas. De modo geral, essas fontes nos altos das serras, quando totalmente cheias – elas descem com mais intensidade e o escoamento vai seguir seu fluxo normal até chegar no entorno das áreas urbanas. Com isso, quando as ruas eram pavimentadas com calçamentos, os escoamentos se davam de forma mais rápida. Sem falar que as consequências têm sido cada vez mais agravantes tanto no impacto administrativo e ambiental porque o custo para manutenção desse asfalto é caro e não dura, pois vira crateras por todas as vias, o que causa transtorno para o fluxo da transição diária.
3- A falta de respeito e educação por parte da população urbana que degrada com o péssimo hábito de jogar lixos nas ruas, nos rios e valões. Todas as provas são, anualmente mostradas como, por exemplo, quando os guardiões do Paraíba do Sul em São Fidélis fazem a retirada de quantidades absurdas de lixos de dentro do rio que cada vez mais encontra-se assoreado. Os bueiros das ruas são outras situações também, pois, necessitam periodicamente, de limpezas e, por fim, o descaso por parte dos consumidores em não aderir ao ato consciente de deixar de usar produtos poluentes ao meio ambiente, bem como a necessidade de uma usina de reciclagem dentro do município.
Por Nelzimar Lacerda – jornalista especializada em Gestão Ambiental
Imagens: divulgação rede social
Em menos de 5 minutos de chuva – a rua Antônio Xavier Maia virou um córrego.