Agenda cultural: após sucesso na XIX Bienal no Rio, Gildo Henrique lança seu novo livro em São Fidélis – dia 07/12 no anfiteatro da biblioteca

20 de novembro de 2019

A agenda cultural em São Fidélis no início de dezembro tem um encontro marcado para o dia 07/12 a partir das 18h, no anfiteatro da Biblioteca Municipal Corina Peixoto de Araújo, com o escritor e ex-comandante do TG 3 em São Fidélis, Gildo Henrique. Natural de Tócos, 17º distrito de Campos dos Goytacazes, RJ. 63, anos, casado e pai de quatro filhos.

Órfão de pai aos nove anos, mudou-se para a cidade, onde residiu na casa de uma irmã, vindo a trabalhar como “rato” num cartório de notas, tendo ingressado, no início da década de 1970, na antiga Escola Técnica Federal de Campos onde cursou Edificações. Hoje, é formado em Sensoriamento Remoto (Universidade de Brásilia), Design Gráfico e Português e Literaturas de Língua Portuguesa (Instituto Federal Fluminense).

Na juventude fez parte do Teatro Escola de Cultura Dramática, ocasião em que foi ator, diretor e teatrólogo, tendo adaptado algumas obras literárias para o teatro, ao mesmo tempo que estudou violão numa escola particular e participou de alguns festivais de música, além de uma rápida passagem pelo cinema Super-8mm. Sua estreia como contista foi com Tinenti, premiado num concurso do jornal A Cidade, incentivado pela saudosa mestra Ruth Maria Chaves Martins, quando de sua passagem pela Faculdade de Direito de Campos.

A partir daí, escritor bissexto, passou a escrever outros contos igualmente premiados como no Concurso de Contos José Cândido de Carvalho, caso de O Segredo do Capitão Garrafa (2010) e Jovinha Doida (2014); e Filatelia, premiado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (2009. É também autor de várias crônicas publicadas no jornal Monitor Campista.

Ao voltar para o Brasil, depois de ocupar cargo diplomático na Embaixada da Argentina, voltou a escrever para teatro a convite do diretor Fernando Rossi e do Presidente da Câmara Municipal de Campos, tendo sido o autor do “A evangelização da Planície Goitacá”, espetáculo montado nas escadarias daquela casa de leis para os peregrinos estrangeiros que vieram para a Jornada Mundial da Juventude (2013).

Apesar de viver na cidade, nunca desvinculou-se da Baixada da Égua, de seus amigos de infância e suas histórias, algumas levadas ao palco, outras publicadas em coletâneas. São relatos vivenciados, outros recolhidos da tradição oral, sempre buscando camuflar-se entre os personagens para não ser identificado.

Livros publicados: “Narrativas e Apreciações – uma homenagem ao centenário de José Cândido de Carvalho” (coletânea), publicado pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima da Prefeitura Municipal de Campos (2014).

“O Segredo do Capitão Garrafa de outras histórias”, publicado pela editora Autografia (2017). Peças de teatro: Adaptação do conto Negrinha, de Monteiro Lobato (1975); Adaptação do romance Oliver Twist, de Charles Dickens (1978 ); Casamento na roça (1991); O segredo do Capitão Garrafa e outras histórias (2011); Marginais: nada que é dourado permanece, baseado no romance The outsiders, de Susan E. Hinton; (2013); A evangelização da Planície Goitacá (2013); Adaptação de Olha para o céu, Frederico!, de José Cândido de Carvalho (2014); As bagas absolutas (2015). Roteiro de filmes de curtametragem: Maldição, baseado na peça de teatro O escravo, de Lúcio Cardoso (1977); A câmara escura (2009); Salvem o planeta! (2009); Xeque-mate! (2009).

1 – Qual o enredo do seu romance?

R.: Nasce um menino “desenganado pelos médicos” e a rezadeira sugere que os pais façam uma promessa a Santo Amaro. No dia marcado para a viagem, o menino abre os olhos e a família descobre que ele tem olhos verdes “acesos”, além de louro. Começa aí a primeira curiosidade: não há ninguém na família com essa cor de olhos. A partir daí, uma série de episódios acontecem com o núcleo principal da história (duas casas vizinhas do povoado), ao mesmo tempo que personagens locais transitam pelo mesmo cenário com suas histórias paralelas: segredo, morte, assassinato, ciúme, traição, vingança, estupro, pedofilia, suicídio, homossexualidade, loucura, covardia, medo, traquinagem infantil, rito de passagem para a adolescência, mistério e desespero, tudo isso em meio a paixões desenfreadas. Como sugere a capa do livro, o personagem-título termina preso.

2 – Qual o cenário da história?

R.: Os personagens residem em Tócos, embora alguns sejam de outros lugares. Mas, durante o romance, há muitas cenas em Ponta Grossa dos Fidalgos, Goiaba, São Martinho, Barra do Furado, Farol de São Thomé, Baixa Grande, Mussurepe, Goytacazes, Santo Amaro. Tudo isso cercado por imensos canaviais.

– Você chama o livro de “ZÉ AMARO – Canaviais do tempo”. Que tempo é esse?

R.: O nome do menino é uma homenagem ao Santo que lhe curou. A história abrange 30 anos (1956-1986). Esse é o tempo de sofrimento, paixão e criação artística e literária do personagem, sempre carregando a imagem lírica dos pendões coloridos dos canaviais durante esse percurso, embora seja, ele próprio, uma recriação do herói trágico grego (Nas tragédia gregas, o herói é conduzido inexoravelmente para o seu fim por desígnios de deuses. No romance, é o destino que o conduz). Quando escolhi o período da história entre as décadas de 1950 e 1980 foi porque quis abranger não só o tempo que provocou a decadência da atividade açucareira em nossa região, mas, também, porque houve a intenção de aproveitar o que minha memória guarda daqueles trinta anos que vivi com intensidade entre o interior e a cidade e vi fronteiras serem rompidas ao se traçar a nova topografia do lugar inserido na Geografia que provocou grande êxodo para a vida urbana, com forte influência da modernidade que trouxe mudanças no modus vivendi. No meu conto “O cinema, a lupa e o tempo” (que faz parte do meu penúltimo livro) eu já me antecipava a esse discurso: “[…] a fila interminável rodando a praça, ao redor de si mesmos. Um ir e vir sem nenhum futuro, um contar-moedas que não acalentava nenhum sonho, nenhuma possibilidade”.

4 – Quanto tempo você levou escrevendo seu romance?

R.: Comecei a escrever o perfil de todos os personagens durante o mês de janeiro do ano passado (2018), enquanto eu estava veraneando no Farol de São Thomé. Ali mesmo comecei a primeira parte do livro até março. Continuando em minha casa na cidade, terminei as três partes em junho deste ano: Resumo: levei 1 ano e meio. Tive que encurtar algumas narrativas, pois a editora pediu que eu diminuísse o romance (estava com quase 400 páginas), de modo que tem apenas 264 páginas, numa edição de luxo em papel offset. Mas ficou até melhor o encurtamento, eliminando “gorduras” próprias da vontade da pena do escritor.

5 – Uma pergunta: tudo é ficção ou você mistura um pouco com a realidade?

R.: É tudo ficção: não há conexão com a realidade em relação aos personagens. Claro que algumas personalidades da época em questão (muitos ainda vivos como o Prof. Hélio Coelho, os jornalistas Silvia Salgado e Herbson Freitas, por exemplo) são citados como parte da mimese para dar suporte à mentira literária. Por exemplo: os franceses, donos da Usina Paraíso (antes da gestão dos Coutinhos), eram outras pessoas com outros nomes e outras histórias, conforme cito no prefácio do livro. Com relação a alguns eventos da cronologia histórica, procurei enquadrá-los na passagem do tempo, para indicar a época exata ao leitor. Logo no primeiro capítulo, cito a eleição de Juscelino Kubitschek, por exemplo.

6 – No outro livro “O segredo do Capitão Garrafa e outras histórias”, que foi um sucesso de vendas, você conta um pouco de suas peraltices infantis. E nesse, há também relatos pessoais?

R.: Não. Naquele livro é (quase) tudo verdade. Eu estou entre aquele meninos. Neste não há relatos pessoais, embora o nome do cachorro da história seja uma homenagem ao meu próprio cachorro (inclusive coloquei a imagem dele após o prefácio), mas a história dele no livro é ficção. As peraltices infantis não diferem da história de tantas pessoas que conheço: cenas comuns de brincadeiras de crianças.

7 – Quantos personagens transitam pela sua história?

R.: Aproximadamente 115 personagens. Alguns agrupados em núcleos da trama, outros avulsos (como ambulantes, profissionais, comerciantes etc), além de citação de alguns filhos dos avulsos.

8 – Quando o romance foi lançado?

R.: ZÉ AMARO – Canaviais do tempo foi lançado na XIX Bienal Internacional do Livro (Riocentro, Rio), no Pavilhão Verde, Estande R32 – Estande da Autografia Editora – em 05/09/2019. Em Campos, foi lançado no foyer da Câmara Municipal no dia 20/09/2019. Depois foi a vez de Maceió-AL em 27/10/2019. Por fim, no Instituto Federal Fluminense-campus Campos, como parte da programação do Festival Doces Palavras em 21/11/2019.

9 – Fale um pouco sobre como se movem os personagens na história.

R.: Se eu tivesse que resumir o enredo desse livro, diria que cobrindo 30 anos, desde o conturbado nascimento de Zé até obter sua liberdade condicional, o núcleo principal convive com outras figuras do dia a dia e suas histórias paralelas, num cenário que abrange a Baixada Campista. O romance, divido em três partes, conta a história de um herói trágico moderno em meio a conflitos os mais diversos, a partir de um ambiente em que todos se conhecem estreitamente, cujas narrativas revelam-se ora surpreendentes, ora repletas de individualidades tão comuns do ser humano. A metalinguagem, que surge em consequência da própria história do personagem-título, é carregada em poucas tintas nas entrelinhas e desvelada aos mais atentos durante o texto.

10 – Que expectativas você espera da recepção do leitor com relação a seu novo livro?

R.: Já estou arrependido de não ter pedido uma quantidade maior de exemplares para essa primeira tiragem. Muita gente (de todas as partes do país) já encomendou com antecedência – alguns amigos campistas já deixaram pago -, de modo que não sei se vai ser suficiente para todos este ano. A expectativa é grande: por onde ando, perguntam-me “E a história de Zé Amaro, já terminou? Não se esqueça de mim…”, isso porque andei escrevendo até em mesas de bar, em quiosques da praia (“Que está escrevendo dessa vez?”) etc.

11 – Quem fez o prefácio?

R.: A apresentação é do mestre em Comunicação e Cultura Orávio de Campos Soares. Eu fiz um prefácio para essa edição especial que será em papel offset, formato 16x23cm, com 264 páginas.

11 – Fale-me sobre a capa.

R.: O projeto da capa e o da diagramação são de minha autoria. A foto é de Patrícia Bueno e o modelo é o sanjoanense Marcos Paulo da Mata.

Via redação






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