Aristino Pessanha narra sua passagem pela segunda guerra mundial

16 de outubro de 2018

Uma vida com muitas histórias para contar. Assim podemos definir nosso entrevistado no quadro do SF RJ sobre pessoas que se destacaram e tem uma lição de vida para contar. Aristino Pessanha Afonso,93 anos de idade, nasceu em São Fidélis, e trabalhava na fazenda do falecido senhor Pedro Gomes de Assis, localizada nas adjacências da serra da “Bela Joana”, mesma época em que havia sido convocado pelo Exército Brasileiro, período da Segunda Guerra Mundial, quando foi convocado para formar as fileiras do exército brasileiro conforme documentos apresentados durante o bate papo.

Aristino integrou o grupo dos 55 soldados, que voltaram do pós-guerra, ou seja, “primeiro Esquadrão Reconhecimento Mecanizado” com 55 nordestinos e somente um fidelense que era o Aristino. Dando sequência a narrativa, Aristino fala que considera uma das passagens importantes que viveu, foi quando ouviu o presidente Vargas, declarar em praça pública que o Brasil entraria.
Como soldado integrante, Aristino conta que administrava uma horta, uma criação de porcos, sendo tudo para o consumo próprio.

Mais tarde, ele conheceu o capitão Dunga, e este no intuito de se valorizar, após uma grande amizade, o transferiu para o rancho para suprir a falta de cozinheiro. E os dias foram passando e ele, cada vez mais se aperfeiçoava na arte, até por ironia do destino morre o segundo chefe do rancho, e após teste foi nomeado primeiro chefe do rancho. Ao chegar o dia do embarque para as fronteiras, somente ele não foi porque teve que ficar com os novos recrutas que chegaram para tomar as instruções necessárias; viu então que seguiria sem saber o destino junto com os seus novos companheiros serem preparados para a batalha. Muito surpreso ficou saber que só restou ele dos 55 companheiros nordestinos.

De volta, ele narra que continuou como chefe do rancho, e em 1947, pediu licença e veio para São Fidélis, foi quando arrumou um romance com uma filha de um italiano. Ao voltar ao quartel, com espaço de noventa dias arrumou nova licença com o comandante para vir casar. Posteriormente, segundo ele, aguardou cinco meses à espera de uma residência cujo tenente Mário – prometeu a ele arranjar uma residência na vila militar por ficar perto do quartel.

Daí conta que resolveu passar dois meses na casa de seus pais em São Fidélis, e trouxe a esposa, e, imediatamente, retorna ao quartel. Aristino diz que tentou voltar para rever a esposa, mas não foi possível, pois havia estourado a revolução de 1948, e a situação ficou difícil, não sendo possível. “Fui obrigado a enfrentar o fogo com meus companheiros. E quando tudo parecia estar encerrado, eu sofri um acidente com a explosão de uma bomba uma distância de 20 metros do rancho, que mesmo socorrido de imediato no HCE, mas ficou constatado que em mim ficou uma lesão cerebral”, ressaltou.

Nove dias depois, Aristino volta para o quartel, mas não foi possível continuar e teve que voltar para o hospital. Após noventa dias, em um quadro debilitado por conta dos distúrbios que o atacaram vez ou outra, ficou mais cinco dias internado no hospital. Constatando-se a veracidade dos fatos, o médico que o assistia solicitou do comando que o afastasse porque não havia mais nenhuma condição dele prestar serviços. Assim sendo, seu Aristino foi demitido e saiu da corporação na referida época com uma gratificação por serviços prestados, (de direito ou não), cuja importância única foi no valor de R$ 18.752 Réis, que, através dessa importância, conseguiu comprar adquirir um patrimônio.

Aristino narra também que, após um tempo, encontrou -se com o coronel Rubens de Lima, o mesmo o instruiu que fosse ao hospital HCE para apanhar os exames e apresentar no 1º Esquadrão, porém por descuido, ele acabou não procurando. “Eu só sei que se o General Dutra estivesse vivo eu poderia ainda recuperar alguns direitos deixados para trás por ter tido conhecido e ele atendia a todos com muito carinho no rancho”, afirmou.  E na sequência da narrativa – Aristino conta que Getúlio Vargas não precisou fazer a Reforma Agrária porque contava com grande apoio dos lavradores e fazendeiros de todo o Brasil.

“Dr. Getúlio não deixava faltar nada para a lavoura, porque ele foi um doador para os grandes e pequenos – pois ele não deixava faltar nada para a lavoura, como enxada, machado, cavadeira, enfim, todas as ferramentas e até mesmo o arado famoso da época, o de nº 524. Getúlio Vargas ajudou muito no setor de empréstimos bancários tanto para os pequenos, grande e médios empresários. Mesmo o País em guerra, a agricultura sobre controle, não atrapalhou em muito a agricultura, sendo assim, por isso as vendas em todas as capitais, ajudando, assim, no alívio aos distúrbios provocados pela fome. Os trens de ferro saíam lotados de mantimentos para os mercados do Rio de Janeiro, Madureira, Praça XV. Dr. Getúlio falava através do rádio com entusiasmo de homem vitorioso porque o povo correspondia. Daqui de São Fidélis, eu tenho muita lembrança das fazendas que produziam em grande escala, posso até citar algumas como senhor Olavo, Osmar Cirino, Ricardo Franco, Antônio Fiaux, Pedro Antônio Pinduca, Antônio Maia, Américo Maia, Aristeu Maia e Pedro Gomes de Assis. Já sobre a Revolução de 1948, vou dizer como começou e terminou. De início, foram criadas duas patrulhas, sendo uma em Bonsucesso e outra em Olaria, tudo isso para garantir a ordem. Enquanto uma patrulha garantia os trens ferroviários, devido à fúria dos anarquistas que colocavam estopas úmidas de gasolina par provocar tumultos com fogo e assaltavam os maquinista, bem como paravam os trens que queimavam até ficarem na ferrugem. Outras patrulhas tiveram que ser criadas porque os ataques estavam acirrados. No cais do Porto, derramaram os tambores de gasolina e atearam fogo que provocou incêndio que se alastrou até a Praça do Flamengo; na Central do Brasil – a situação ficou tensa com o fogo tomando conta de tudo. Em Marechal Hermes, os anarquistas que se diziam revolucionários jogaram bombas no depósito de armamentos e foi aí que se feriram e morreram seis. Na Patrulha da Central também ocorreram vários acidentes. Na manhã do dia seguinte, chegava a filha do general procurando pelo seu esposo para retirá-lo do Palácio, pois o mesmo estava de serviço. Era a esposa do comandante Polonha. Este ocorrido se deu às 8h20 da matina, e havia um comunicado que os inimigos estavam caminho da casa presidencial para depor o General Dutra. Foi então que o Tem. Polonha tocou as sirenes para que os soldados pudessem se preparar para o combate no Largo da Carioca. E lá se foram os grupo da Aeronáutica, da Marinha, grupo de estudantes e uma centena de anarquistas comunistas que não sabiam o porquê lutavam”, finalizou.

Por Nelzimar Lacerda






www.saofidelisrj.com.br | Copyright 2001 - 2024 todos os direitos autorais reservados
Jornalista responsável Nelzimar Lacerda | Registro profissional DRT/RJ 29740