O ano é 2016. Indicado pelo ex presidente Michel Temer a ocupar o cargo de maior importância do Ministério das Relações Exteriores fora do Brasil, o embaixador Sergio Amaral acumula um currículo invejável, até mesmo para alta cúpula do Itamaraty.
Formado em Direito pela USP e pós graduação em Ciências Políticas pela Panthéon-Sorbonne, serviu em Paris, Bonn, Genebra e Washington como diplomata. Foi negociador da dívida externa brasileira junto ao Comitê de Bancos Credores e ao Clube de Paris. Foi também governador alterno junto ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, além de representante alterno do Brasil junto ao GATT, por ocasião da Rodada Uruguai.
Na administração pública, foi Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente, Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República e Porta-Voz do ex presidente Fernando Henrique Cardoso. Mais recentemente, foi Presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Diretor do Centro de Estudos Americanos da FAAP e Membro do Conselho Estratégico da Federação de Indústrias de São Paulo. Integrou o Conselho da WWF Brasil, assim como o conselho de administração de várias empresas brasileiras e estrangeiras.
Isso vai muito além de mostrar a trajetória dessa figura icônica do serviço exterior brasileiro que causa brilhantismo nos olhos para quem olha de primeira. O ex embaixador do Brasil junto a Washington foi exonerado do cargo pelo então presidente Jair Bolsonaro em abril de 2019. Vago durante três meses, o cargo mais almejado pelos mais altos membros do Itamaraty pode não ser ocupado por um deles, mas sim pela extensão dinástica que o chefe do executivo quer realizar, uma espécie de “puxadinho” familiar para os cantos do seu governo.
Hoje, podemos entender que essa espera foi nada mais e nada menos que o seu 03 completasse 35 anos, idade mínima para assumir a responsabilidade de qualquer embaixada. Após o cumprimento do seu mandato, o ex presidente Itamar Franco recebeu a responsabilidade de comandar a embaixada em Portugal e em seguida na Itália em dois governos distintos (FHC e Lula).
Podemos enxergar realmente uma discrepância entre Sergio Amaral e Itamar Franco, porém, assumir o Brasil com uma inflação que chegara a mil por cento ao ano e estabilizá-la em dois dígitos não foi uma tarefa fácil para Itamar e sua equipe econômica, que conseguiu implantar o Plano Real em 1994, assegurando os investimentos e diminuindo o descompasso da economia brasileira com o mundo.
O que tem haver Sergio, Itamar e Eduardo? Ao mesmo tempo que muita coisa, também não tem nada. Jair Bolsonaro quer indicar seu filho à embaixada mais importante do país, a mesma que Sergio Amaral ocupou até esse ano. Com argumentos que sabe falar inglês e já ter feito intercâmbio, inclusive ter fritado hambúrguer nos EUA, o 03 se qualifica como ápto a sua indicação, mal sabe ele que para ser diplomata precisa-se de no mínimo três idiomas fluentes e ter fritado hambúrguer em uma lanchonete americana, convenhamos que é pouco para assumir esse cargo. Basta olharmos para o currículo de Sérgio Amaral.
Antes de assumir a embaixada, passou por diversas representações do Brasil no exterior e acima de tudo, é um diplomata de carreira do Ministério das Relações Exteriores. O único caso isolado de um não servidor do serviço exterior brasileiro, foi mencionado acima, o ex presidente Itamar Franco. Porém, estamos colocando na mesma mesa, a pessoa que ocupou a cadeira presidencial e ajudou o país a sair da maior crise econômica de sua história republicana, com um senhor que assumiu o único cargo com relevância internacional que ele pode ocupar, que é o de presidente da Comissão de Relações Exteriores.
Com essa trajetória, podemos pensar que Eduardo Bolsonaro é tão qualificado quanto Sergio Amaral ou Itamar? Ou até mesmo Rubens Ricupero, outro célebre diplomata que ocupou a embaixada? Para o filho mimado do presidente, até Papua Nova Guiné é demais para ele. Temos que nos curvar ao fato que o embaixador lida com acordos comerciais, interesses políticos, empresariais, ciência e tecnologia, imigração, agrícolas, segurança e entre outros.
Representar o Brasil nessas situações, está muito além do que Eduardo possa almejar. A indicação está causando alvoroços dentro do Itamaraty e na mídia, fato esse que dito pelo próprio pai, que “se estão criticando, então ele é um bom nome”. Bom, então se falarem bem, também é um bom indicador? O que estamos preste a vivenciar é um completo descuidado com a política externa brasileira.
Não é uma tarefa fácil ser diplomata, muito menos galgar até ministro de primeira classe (que é o equivalente a embaixador na nomenclatura oficial), o filho do presidente está querendo pular etapas por este pensar que tem a confiança e apoio de Trump, mas a grande questão vem depois, o que garante que o presidente americano irá se reeleger?
Perante isso, como ficaria a embaixada brasileira sabendo que essa indicação vem causando desconforto ao redor do mundo? Saimos de Sergio Amaral para entrar Eduardo Bolsonaro, o que mais podemos esperar?! Tenho até medo de perguntar as cartas do tarot!
Matheus Macedo é formado em Fisica pela UERJ e aluno de mestrado em Sistemas Inteligentes pela UERJ. Tem experiência na área de Física de Altas Energias e Inteligencia Artificial. Atualmente, tem se dedicado ao concurso de admissão a carreira de diplomatas (CACD) do Ministério das Relações Exteriores. Escreve aos domingos.