Dia do Folclore: revisitando a história com Evando Freitas sobre as lendas marcantes na história da cidade de São Fidélis

22 de agosto de 2017

No dia 22 de agosto comemora-se o dia do folclore. Essa data foi estipulada em 1965 como meio de fazer as pessoas lembrarem-se de toda a nossa cultura perpetuada ao longo dos séculos. O folclore não se baseia só em lendas, como Saci-Pererê e Mula Sem Cabeça, entre outras, mas se constitui de todas as tradições costumes e crenças de um povo. Quem nunca escutou uma frase de para-choque de caminhão, uma trava-língua, uma história da avó ou avô, uma parlenda ou uma trova? Se você já viu ou escutou, aprendeu um pouco de nossa cultura folclórica. Essa postagem referente ao mês do folclore, agosto, tratamos de revisitar um pouco sobre o folclore fidelense, mais especificamente sobre as lendas urbanas e rurais do município.

A lenda dos túneis

Muitos contam sobre a existência de um túnel que ligava a Igreja Matriz ao Colégio Estadual de São Fidélis. Inclusive, os antigos contam que teriam passado por esse suposto túnel, alimentando, pois, a história. A origem da lenda está no fato de existir no subsolo da Igreja Matriz 30 catacumbas, construídas para enterrar padres e contribuidores das obras da igreja. Até hoje ainda se pode ver algumas dessas catacumbas, conforme as ilustrações.

A história, entretanto, não para por aí. Conta-se ainda que esses túneis serviam para os frades fugirem do ataques dos índios no início da missão, por volta de 1800.Quando essa tribo atacava, os frades fechavam a igreja e passavam pelo túnel até a Igreja do Rosário (onde localiza-se o Colégio Estadual de São Fidélis) e fugiam. Todavia, esta não passa de uma história imaginada, portanto, se constitui uma lenda urbana, específica de São Fidélis.

Mas afinal, qual a ligação entre esses dois lugares, a Igreja Matriz e a Igreja do Rosário? Ao lado da Igreja do Rosário havia um cemitério de índios e negros a céu aberto, além de um hospício, enquanto que na igreja matriz um conjunto de galerias que são na verdade catacumbas (cemitérios). A única ligação é que os dois possuíam cemitérios. Nunca houve passagem entre esses dois lugares, e o que os mais velhos contramão passam de histórias que envolvem as passagens para as catacumbas por baixo da Igreja, que tiveram sua maior parte fechada e soterrada em 1820.

A noiva da Ordem

Essa lenda não é tão difundida como a dos túneis, mas faz parte do folclore fidelense. Não encontramos registros escritos, portanto, este pequeno texto se baseia em narrativas populares, ou seja lenda  Os antigos dizem que havia uma noiva que, em noite de lua cheia, aparecia na janela da ordem. Essa noiva não conseguiu se casar e, por isso, vem a cada lua procurar marido. Antigamente, as pessoas iam para perto do lugar para ver se a lenda era verdade, e como a mente humana nos faz ver coisas onde não há, achavam que viam a bela noiva.

A velha da vassoura

Essa lenda não é tão antiga, teve origem provavelmente nas décadas de 1960 e 70, quando foram feitas as pinturas do teto da Igreja Matriz. Só parte da origem da lenda é conhecida, e não se tem muitos registros em livros sobre ela. Há duas versões de como surgiu a lenda, mas não cabe aqui explica-las. O fato é que o pintor Uberar Marin, que era espanhol ,quando foi pintar a passagem do livro do apocalipse no teto da igreja matriz, representou nela uma senhora com uma vassoura na mão, sobre a qual se conta ser uma velhinha de que ele não gostava muito por ela lhe ter negado água.

Como podemos ver na figura abaixo, a velhinha com a vassoura está mesmo sendo representada, e na passagem bíblica de onde essa pintura foi tirada não está registrada tal figura. Como não se sabe quem é, constitui-se como lenda.

LENDAS RURAIS

Lenda do Sapateiro

Ao chegarmos às terras fidelenses, vindo da cidade de Campos dos Goytacazes, podemos ver de perto uma das mais importantes serras da região, a Serra do Sapateiro. Ela recebeu esse nome por causa de um homem, de quem não se sabe o nome, e que lá viveu e possuía ofício de consertar sapatos.

O sapateiro viveu com sua família na serra, mesmo sendo ela rodeada por índios puris considerados perigosos, pois alguns historiadores afirmavam que eram canibais. Esses índios se apaixonaram pela filha do sapateiro, o que gerou fortes conflitos e levou ao surgimento de outra lenda, descrita a seguir.

Lenda da Bela Joana

A lenda da bela moça Joana é uma das mais antigas da cidade, e remonta aos tempos de colonização da área onde hoje é São Fidélis. A história narra que, no início, cinco grandes desbravadores subiram o Rio Paraíba do Sul para as nossas terras, com intenção despovoá-las e assim explorar todas as riquezas que pudessem conseguir. Chegando às terras, encontraram duas tribos de índios, os Puris e os Coroados. Os primeiros, mais rebeldes, não queriam muito contato com o homem branco.

No entanto, os índios puris seguiram a missa, e viram dentre os desbravadores que um deles tinha o ofício de consertar sapatos, o Sapateiro. Logo os índios começaram a atacar os invasores de suas terras, mas não atacaram o sapateiro, que foi levado para o pé de uma serra, que hoje recebe seu nome.

Preso com sua família, o Sapateiro conviveu com os índios. Uma das filhas do sapateiro era muito bonita e chamava a atenção de todos, até que um dia o chefe puri se apaixonou por ela. Os irmãos da bela moça não gostaram da ideia e logo começaram a dar um jeito de afastá-lo, porém, não conseguiram. Outros índios vieram e atacaram a família matando quase todos, sendo que a bela Joana sobreviveu.

Joana viveu com os índios por um tempo, mas era infeliz. Numa oportunidade, a jovem fugiu para a vila de São Salvador, hoje Campos dos Goytacazes. Na vila, a bela jovem ficou desamparada, morando pelas ruas. Joana, no entanto, não ficou muito tempo pelas ruas; sua beleza logo chamou a atenção de um grande fazendeiro, que a levou para morar com ele.

Alguns dizem que a Joana teria ficado em uma casa de dança, onde encontrou o fazendeiro, as versões da história são diversas, e nem se sabe se a bela jovem um dia existiu, de fato.

A lenda do Itacolomy

Uma lenda pouco contada, e até mesmo esquecida em meio às outras, possui uma importância única: a Lenda do Itacolomy. Itacolomy é uma das regiões que hoje compõem o município de São Fidélis, um das primeiras áreas a serem explorada.

É uma região inicialmente habitada pelas duas tribos de índios que viveram em São Fidélis, os puris e coroados, e uma área onde havia muitos riachos, bem como uma floreta densa.  Portanto, o Itacolomy era muito lucrativo, o que logo atraiu o olhar dos desbravadores.

Iniciada a exploração da área, os exploradores começaram a derrubar as árvores e a procurar ouro e outros minerais, até que um dia viram alguém na mata: era um menino que pedia a eles para não derrubarem as belezas que Deus havia feito. Sem saber o que era e de onde havia vindo os colonizadores dispararam contra a criança, com armas de fogo, e o menino virou uma pedra. Por isso, a área ficou chamada de Serra do Itacolomy, que significa “Garoto de Pedra” ou “Menino de Pedra”.

Por Evando Freitas – Historiador e professor






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