Após uma semana da realização do V Festival de Poesia Falada de São Fidélis, a reportagem bateu um papo com atriz e produtora cultural, Helen de Freitas, 27, que faturou o prêmio na categoria Menção Honrosa com a poesia Vassoura de Outono, de autoria de Ademir Martins, da cidade de Macaé.
Helen nasceu na cidade do Rio de Janeiro e iniciou carreira aos 18 anos, em Nova Iguaçu, na Escola de Teatro Cenário, logo em seguida, foi convidada para atuar na Cia Nossa Senhora do Teatro – Fernanda Montenegro, onde trabalhou por dois anos como atriz. Em 2006, entrou para o Centro de Artes de Laranjeiras (CAL) no Curso de Livre de Teatro, onde teve a honra de estudar com diretor e professor alemão Ole Erdmann. No mesmo ano, o destino a trouxe a Macaé para iniciar um trabalho paralelo ao Teatro, cidade esta que ela diz expressar muito carinho e respeito pelo acolhimento obtido. Por necessidade maior, teve que deixar a vida Teatral carioca e acabou iniciando uma nova história de amor com os palcos na capital do petróleo. Em 2008 passou para o Curso Técnico de Artes Cênicas da cidade, referência na região, formando-se profissionalmente e atuando intensamente.
Ela foi um dos destaques ao defender como intérprete, a poesia vencedora do festival, bem como premiada na categoria Menção Honrosa que para quem não sabe, significa mérito ou uma distinção especial em reconhecimento pelo esforço e valor individual, o que equivale ressaltar que, pelo desempenho brilhante e profissionalismo da atriz, no quesito em si, fez jus a avaliação conferida pela comissão julgadora do festival de poesia.
Ao ser perguntado como é fazer cenografia poética, isto é, interpretar sem estar propriamente em uma cena qualquer, há diferença ou não entre o ato de encenar ou interpretar apenas um texto?
– Interpretar/defender uma poesia não é uma tarefa fácil. A poesia não possui ação dramática, como um texto teatral, no entanto, a poesia precisa chegar, precisa tocar o coração das pessoas, precisa ser bem entendida tanto por quem declama quanto por quem ouve. Quando se lê e se estuda um poema para interpretá-lo, é necessário mergulhar na sua essência e compreender além do que está no escrito no papel. É preciso entender as entrelinhas. E esse entendimento textual se assemelha muito ao processo de construção de uma cena. É preciso saber o que se está dizendo. Mas a poesia ela tem um chamego especial. Ela tem um encantamento natural, costumo dizer que é um infalível remédio para a alma! Risos. Interpretar poesia é uma delícia. E tem que se fazer com amor, como tudo que a gente faz na vida, quando se gosta – afirmou.
Confira a poesia vencedora:
VASSOURA DE OUTONO (Ademir Martins)
Pende frontalmente esse tronco
de mulher varrendo o outono
da calçada.
– Uma cerimônia de décadas…
Sabe-se lá quantas nervuras, outrora verdes,
já – secas – flutuaram seus corpos em coreografias,
dos ramos às fibras de seu fiel instrumento…
(diário, permanente, sacro rito doméstico.)
Duas tetas, estreladas,
choram no côncavo peito,
murchas de idos filhos
– longes filhos… –
desmamados… para onde?…
(Felizes os rebentos… seriam?
Teriam completado os estudos?… Formaram-se doutores?…
Casaram-se?…
E os netinhos… tão lindos… tão sonhados!…)
O que poderia saber sobre ela,
eu, que somente passei meu caminho
diante da firme carícia da piaçava no cimento?
Mais adiante, a boca de lobo, em silêncio, agradece:
– “Água há de passar sem que eu engasgue.”
(sem que o quarteirão se entupa, se desespere de enchentes,
se afogue…)
Uma sensação (minha ou dela?)
de que, se larga a ferramenta,
espatifa-se a face no chão.
Mas ela não larga: prossegue, sustenta,
determinada, a higiene da fachada.
(Tudo precisa ser limpo – tudo na vida!…)
Quem estaria à sua mesa no próximo domingo?
Frango, maionese, macarronada,
serena mousse de maracujá, as peras merengadas, aprendidas na TV…
– … tantos sabores!… –
– para que bocas?…
E tem mais:
haveria o próximo domingo?…
Sua mão esquerda é mais triste:
duas alianças.
– ouro funde-se em ouro
de eternas bodas de mel,
na mística, alquímica joalheira,
de aqui e do além: um só largo anel!
– um homem é ressuscitado
diuturnamente em seu apenas dedo
anular esquerdo!
Ah, como passam as estações
sem dar conta alguma de sua irredutível vassoura!
E como – com que dor!… –
seus olhos acusam o vento e a beleza das árvores
diante da casa!…