Neto Potiguar – a revelação de um rapper fidelense que protesta através da música e poesia.

28 de julho de 2013

Para uma cidade que tem o topônimo que a referencia como “Cidade Poema” e nomes que se destacaram como Antônio Roberto Fernandes e Sebastião Fernandes,(que recebeu prêmio Machado de Assis) com a obra Cuité, no século passado, entretanto, atualmente, um nome tem sido destaque por unir ritmo e poesia com extrema criatividade com base numa visão crítica e questionadora sobre a própria realidade dos problemas vivenciados no dia a dia nessa mesma cidade, onde a arte urbana e a poesia o inspiram.  Trata-se de Neto Potiguar, um jovem de apenas 21 anos, estudante de Ciências Sociais, e que nas horas vagas, quando não está estudando ou trabalhando, encontra-se escrevendo, tocando, skateando, grafitando ou declamando através da musicalidade no melhor do estilo MC repentista, seus versos poéticos e questionadores, os quais têm sido destaques nas redes sociais e o mesmo tem sido apelidado como “Neto pensador”.

Durante a semana, um vídeo postado no youtube com uma gravação inédita de um dos trabalhos do artista tem chamado a atenção, bem como compartilhado por centenas de internautas. Gentilmente, em entrevista concedida ao São Fidélis RJ, Gilberto de Oliveira Neto (popular Neto Potiguar) disse que, infelizmente, a falta de uma política cultural no município faz com que os jovens fiquem cada vez mais alienados por conta de uma política de entretenimento que só oportuniza favorecer a políticos que se elegem com base na “política do pão e circo”.  E as consequências para essas crianças, jovens e adolescentes, são desastrosas por conta da ausência de projetos culturais que poderiam contribuir para uma melhor formação e desenvolvimento de sua identidade ou afinidade cultural, e, assim, não se tornariam presas fáceis para o submundo das bebidas e drogas, conforme se tem visto o alto índice de crescimento na cidade. 

SF RJ – No atual momento em que explode por todo país as manifestações que demonstram a insatisfação por parte do povo com a classe política, como você avalia essa situação também demarcada em São Fidélis com relação aos problemas locais que, muito antes da pequena manifestação por parte de um grupo embalado pelo clamor das manifestações nas capitais, resolveu ir para rua. Porém, você já vem há muito tempo através da junção poesia e música, protestando sobre os problemas locais. Como tudo isso começou?

Neto – Simplesmente, a partir do momento em que eu comecei a observar, questionar e incomodar por querer saber o porquê das coisas não funcionarem na nossa cidade como deveriam. Daí também percebo um  povo omisso, passivo que não cobra e só sabe reclamar e não faz nada. Um povo que usa o voto como moeda de troca por conta de cargos temporários, bem como àqueles que só querem levar vantagens, que não respeita às leis e, sequer são educados, como por ex., no trânsito da cidade e etc. Então, comecei a presenciar e conviver com todo esse tipo de coisa e, assim, me enclausurava no meu quarto para escrever e pôr para fora toda minha indignação através da arte como forma de protesto tendo em vista que eu já me encontro nesse processo de manifestação há muito tempo, de forma que tenho escrito bastante e divulgado meus trabalhos nas redes sociais que, para mim, tem sido essencial poder soltar o verbo e falar com naturalidade sobre os fatos que ocorrem diante dos meus olhos e que não dá para ficar calado.  Quanto às manifestações, eu acho que alguma mudança positiva e eficaz, principalmente em relação à classe política, somente poderá acontecer a partir do momento que o povo souber se manifestar nas urnas e exigir planos de ações e que sejam postos em prática.

SF RJ – Recentemente, você ministrou uma palestra a convite de uma escola da rede particular de ensino para falar de seu envolvimento com a poesia, as trovas e a música. Como você analisa o processo de ensino e da arte nas escolas?

Neto – Vejo que esse processo tem sido bastante discutido por parte de alguns professores, uma vez que a partir da disciplina Artes Visuais já ampliou bastante a difusão dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos. Mas a realidade é que ainda há um enorme distanciamento por conta do pequeno número de profissionais especializados na referida área e atuação nas escolas, para despertarem os alunos e desenvolverem as vertentes culturais, principalmente nas escolas públicas. É visível essa carência, apesar de muitos talentos adormecidos. Assim como falta na área de esporte, por ex., uma pista de skate para a garotada que tem afinidade com esse esporte, e que reclama por ter que só praticá-lo à noite e na rua porque é a única via ou espaço vazio que encontra. Da mesma forma acontece com relação à lei 11.769/08 que determina que a música deve ser conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica, mas sabemos que  isso não tem sido posto em prática na grande maioria das escolas, principalmente nas escolas públicas que, infelizmente, são tantos os problemas para serem resolvidos que muitos nem lembram da referida lei.  

Confira o vídeo musical gravado e postado no Youtube.






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