O mês de dezembro está no ar. E com ele, Natal, um tema controverso, sobretudo pelo conceito mercadológico agregado a data em um contexto muito maior de lucratividade para a maioria do que a verdadeira essência vivida e praticada por uma minoria. Ou seja, a figura de um bom velhinho passando-se por bondoso e ícone de todas as mídias, para fazer com que o comércio atinja seu clímax em termos de vendas, a um povo já bastante endividado pelos excessos desse materialismo e consumismo exacerbados,o que tem tornado as pessoas cada vez menos espiritualistas.
Roga a história que a origem do bom velhinho foi inspirada em São.Nicolau, bispo católico que viveu no século na cidade de Mira, onde hoje é a Turquia. Segundo monsenhor Arnaldo Beltrami, Britanniica Online e Bureau de Turismo Rovaniemi, S. Nicolau teria salvado três meninas da prostituição, ao jogar pela lareira de sua casa três sacos de ouro, fazendo com que o pai das meninas desistisse da ideia de vendê-las para pagar o dote (quantia exigida pelos noivos para consumar o casamento). Além disso, diz a lenda que Nicolau adorava crianças e vivia oferecendo presentes, de modo que o dia do seu nascimento, celebrado em 06 de dezembro, acabou confundindo-se com as comemorações do nascimento de Cristo, (apesar de não se saber quando Nosso Senhor Jesus Cristo, nasceu)
Ao longo dos séculos, a história ganhou outros detalhes, Papai Noel ganhou roupas de frio e mudou-se para o Pólo Norte. Mas a mudança mais radical ocorreu no século XX, quando, em 1931, o americano Haddon Sundblom, adicionou roupas vermelhas, barba branca, gorro e o saco de presentes para um anúncio da Coca Cola. E assim, o sucesso da imagem transcendeu os comerciais do refrigerante. Os escandinavos aproveitaram a lenda e o turismo no norte da península, mas como os finlandeses foram mais espertos, declararam a cidade de Rovaniemi, na Lapônia, como sua morada.
Enquanto isso, grande parte da humanidade ainda não descobriu e nem reservou uma morada para Cristo em seu coração. Passaram-se mais de dois mil anos e a mesma continua egoísta, perdida em seus estados de coisas, mundos fantasiosos e presa ao hedonismo. Não sabe o que é fazer um Natal todos os dias do ano, sem imagem insignificante e criada para vender quinquilharias, quando se deveria ter um olhar sensível, mãos estendidas, gestos compartilhados e orações elevadas.
De certa forma, é necessário também desmistificar o sentido de como a imagem de Jesus foi trabalhada neste round de controvérsias, como sendo um homem de linda aparência, de olhos azuis, tão interessante quanto era o ouro para Herodes e a igreja (embora se saiba que os povos semitas, dos quais oriundos os judeus, em sua maioria, sempre foram de pele bem morena e traços contrários à imagem que criaram de Cristo). Nota-se, não só o preconceito racial, bem como poder, classe social e religião já diziam ser a tônica de todos os conflitos pelos quais ainda vive a humanidade
Logo, se em cada sorriso, em cada gesto, em cada palavra e em cada valor, a humanidade transformasse tudo isso numa força maior que pudesse ser chamada de amor em sua essência maior, com certeza, Jesus nasceria em todos os dias do ano. E o Natal seria real. Daí, não haveria mais imagem de bom velhinho nas Tvs, nas redes sociais, descendo pelas chaminés ou de helicóptero, para iludir crianças e deixar o Natal cada vez mais distorcido.
Nelzimar Lacerda
Jornalista