Os fidelenses, entusiasmados com a Campanha Abolicionista que agitava o Brasil e principalmente o município de “Campos dos Goytacazes”, berço de José do Patrocínio, e pelas vitórias obtidas na Guerra do Paraguai, reunidos para jamais permitirem atos de violência em nossa terra, deliberaram não concordar que se erguessem em nossa terra um pelourinho.
A semente da libertação dos escravos, plantada em terra dadivosa e boa por um valoroso grupo de abnegados e valentes fidelenses, germinou rapidamente, tendo à frente do movimento o dr. Laurindo Pitta, seguido pelo cônego Joaquim Pereira Jorge Guaraciaba, Antonio Pitta de Castro, Francisco Teixeira de Carvalho, Alberto Veiga (jornalista, diretor do jornal “A Gazeta da Comarca”), tenente-coronel José Alves Pereira, Antônio Alves de Almeida Pereira e comendador Carlos Teixeira Leite. A primeira reunião dos abolicionistas fidelenses aconteceu no dia 18 de março de 1888, presidida pelo cônego Joaquim Pereira Jorge Guaraciaba, vigário da paróquia; Antonio Pitta de Castro, juiz municipal suplente; e Francisco Teixeira de Carvalho, delegado de Polícia do município, estando presentes mais de 300 pessoas no salão de audiências da Câmara Municipal (atual prédio da Prefeitura Municipal). Ao término da reunião, sob intensa vibração cívica, o povo acompanhou o líder, dr. Laurindo Pitta, até a sua residência, seguido pela banda de música “Sociedade Musical Euterpe Comercial Fidelense”, visitando antes as redações dos jornais da época: “O Monitor Fidelense” e “A Gazeta da Comarca”.
Confirmando ter sido São Fidélis o município onde não se ergueram pelourinhos, em razão do eficiente trabalho de nossos abolicionistas, o Tenente-Coronel José Joaquim Alves da Cunha, em 1865, respondendo ao desembargador da Província, José Tavares Bastos, afirmara: “Ilmo. Sr. – Em solução à portaria de V. Exa., de 26 de agosto do corrente ano, ordenando que esta câmara informe se ainda há pelourinhos, nesta vila e no caso afirmativo, onde estão colocados, e qual o uso que deles se faz; a câmara tem o prazer de informar a V. Excia., que felizmente nesta vila, nunca houve, e nem há tais pelourinhos.
Vila de São Fidéllis – 11 de outubro de 1865
Ass: José Joaquim Alves da Cunha – Presidente”
Uma maior comprovação de que não existiam pelourinhos em nossa terra são as notas publicadas pelos jornais da época, como a seguinte: “Em 03 de outubro de 1850, na Praça do Rocio na cidade de Campos dos Goytacazes (atual Campos) foram executados os escravos José Cabinda, Manoel Congo e Romão, pertencentes ao inglez Alexandre Davidson, fazendeiro, proprietário da Fazenda Pedra Dagua (vila de São Fidélis).”
Vários fazendeiros, antes do dia 13 de maio de 1888, libertaram os seus escravos em nosso município; o coronel José Joaquim Alves da Cunha, Antonio Pitta de Castro, dr. Antonio José Pacheco, Lourenço Pereira de Carvalho, Manoel Ferreira da Silva Policarpo, dr. Américo Lima, dr. Laurindo Pitta, Sergio Pitta de Castro, Alberto da Costa Mattos, José Brahmam, Antonio José Gonçalves, Manoel Gonçalves Loureiro, José Antonio Gonçalves, tenente-coronel José Alves Pereira, capitão Antonio Francisco Pereira, tenente Antônio Joaquim de Carvalho, Anastácio Teixeira Leite, Adélia Barros de Nogueira, dr. José Maria Lima, Carolina Malta de Faria, Francisco Rodrigues Teixeira de Carvalho, Antonio de Souza Martins, Manoel Joaquim Sendra, Maria Malta Souza, Domingos Portugal Freixo, capitão Antonio Francisco da Silva Tavares, José Goulart de Macedo, Eduardo Gato e Irmão, capitão José Gomes de Andrade, Francisco Fiaux e Argeu Fiaux, José Antonio V. R. de Siqueira, Joaquim Francisco de Almeida, Alves Cunha, capitão Francisco Alves Silva, Laura Gomes dos Santos, Mario Freire, Manoel Carlos Ribeiro da Costa, José Rebelo da Silva, viúva Arlindo Pereira, dr. A. Joaquim de Almeida Faria e João Manoel de Souza (barão de Vila Flor), Francisco Ignacio Cortes, Antonio Alvares de Almeida Freire, capitão Sergio Chaves, Virgilio Chaves, Laurindo Gomes Guimarães, João Batista da Cruz , José da Cruz Leal, tenente coronel Geraldo Rodrigues Chaves e Cornelio da Silva Chaves.
Em várias freguesias do município de São Fidélis, também um grande número de fazendeiros libertou os seus escravos antes da data da Abolição.
Alberto Veiga, jornalista, proprietário do jornal fidelense “A Comarca”, por ocasião da primeira reunião dos abolicionistas, disse: “Favorecer a liberdade, é evitar que se dispersem as forças produtoras da atividade rural, mais do que nunca indispensáveis ao desenvolvimento de nossa principal atividade – a agricultura.”(Havia em São Fidélis aproximadamente18.000 escravos)”.
Autor: Aurênio Pereira Carneiro