Silvio Rabelo, no seu livro “Euclides da Cunha” (coleção de Estudos Brasileiros da CEB), afirmou: “São Fidélis não invejava nada às demais cidades florescentes da Província: Vassouras, Valença, Resende e Barra Mansa. A cidade tinha o seu porto fluvial, onde embarcava o café, que ia para a Corte; o seu teatro, freq?entado por companhias portuguesas; o seu clube; a sua biblioteca; e a sua Imprensa.”
São Fidélis possuía a sua Imprensa, possuía o seu “sexto sentido”, como afirmou o dr. Godofredo Tinoco, escritor, poeta, jornalista e advogado “campista”: “O jornal é o sexto sentido de um povo civilizado”; “uma comunidade não pode existir sem o seu órgão de imprensa.”
Segundo informações do eminente jurisconsulto fluminense, dr. Mirtaristides de Toledo Piza, autor do livro Itaocara, antiga Aldeia de índios”, editado em 1946, o primeiro órgão de nossa imprensa foi “O Fidelense”. Isso se conclui, considerando que o citado jornal, publicou em 6 de janeiro de 1870 a notícia de derrotas sofridas pelo Ditador Francisco Solano Lopes, que fugira para a Bolívia, ocorrência festejada com repiques de sinos, passeatas e foguetes ao som do Hino Nacional, na antiga Aldeia da Pedra, atual Itaocara.
A nota de “O Fidelense”, de 6 de janeiro de 1870, tem o seguinte teor: “Os pedrenses (pedrenses eram os habitantes da Aldeia da Pedra) recebem transmitida pelos jornais de Campos, a notícia de que Lopez fugira para Bolívia, e resolveram dar demonstração patriótica dos sentimentos de que se achavam possuídos.
Diversas casas da povoação à noite, foram iluminadas, vindo a luz projetar-se pelas janelas, até as ruas. Um grupo de pessoas de destaque possuído de indescritível entuasiasmo, reuniu-se no Instituto Escolar, e dali todos seguiram para a Casa de Audiências, onde se achava o Sub-Delegado de Polícia Joaquim, da Silva Campos, que falou fazendo ver ao povo o motivo da reunião, e convidando a todos a tomarem parte no regozijo; depois todos percorreram as ruas ao crepitar de foguetes que subiam aos ares, ao tanger dos sinos e ao som do Hino Nacional, tocado e cantado, por alguns amantes da arte divina, erguendo-se nesta ocasião, os vivas de estilo, que foram estrepitosamente correspondidos. Terminado o regozijo, o povo dispersou-se, não havendo nesta reunião, nenhum ato que interrompesse a ordem e a harmonia tão peculiares aos “pedrenses”.
Os eventos narrados em “O Fidelense”, de 6 de janeiro 1870, verificaram-se em 25 de dezembro de 1869, e, como ficou esclarecido, o nosso órgão de imprensa comentou as festividades dos habitantes do atual município de Itaocara, festividades essas veiculadas pela imprensa da cidade de Campos.
O que se conclui a respeito do primeiro jornal “fidelense” é que se o número 94 de “O Monitor Fidelense” data de 4 de setembro de 1881, conforme o referido fac-símile, entre as páginas 96 e 97 da “História de São Fidélis”, ele não poderia ter sido fundado em 1870, já que completava seu décimo ano de circulação.
Pelo que se comprova, “O Monitor Fidelense”, surgiu em 1871, e o “Cruzeiro do Sul” não foi o primeiro jornal de nossa terra, mas, sim, o terceiro órgão de nossa Imprensa , publicado em 1872. Na história do jornalismo fidelense, registramos o aparecimento de “O Engenho de São Benedito”, em 1873, jornal da Fazenda de São Benedito, propriedade do cidadão João Manoel de Souza, barão de Vila Flor. Em 1875, São Fidélis contava com dois órgãos de Imprensa: “O Correio Municipal” e “O Correio Fidelense”, este último adquirido em 1876 pelos aficionados do Partido Liberal, chefiado pelo abolicionista e republicano dr. érico Marinho da Gama Coelho, mais tarde segundo senador fidelense. No início da campanha republicana o dr. érico Coelho (como era chamado pelos seus conterrâneos) passou a dirigir um novo periódico denominado “O Povo” destinado à propaganda intensa e à defesa dos ideais republicanos. No ano de 1880, ressurgiu “O Monitor Fidelense”, que durou até 1888.
Mas, no período de 1882 a 1886, dois jornais também disputavam a preferência dos fidelenses: o “Jornal da Comarca” e “A Sentinela”.
Dirigido pelo grande abolicionista fidelense Alberto Veiga, também proprietário do jornal, surgiu em 1886 a “Gazeta da Comarca”, e no ano seguinte 1887, voltou a circular “O Correio Fidelense”, órgão conservador, que também divulgava as noticias da terra.
A 5 de julho de 1895, José Pires & Cia editavam o primeiro número de “A Lucta”, que passou por mais duas fases: a segunda sob a responsabilidade do jornalista Peri Miranda e a última ainda com Peri Miranda e sua filha Leri Miranda na gerência.
São Fidélis ainda contou com a existência dos jornais “O Democrata” e “O Paladino”, entre 1887 e 1889, sendo que nesse último ano o jornalista João Henriques de Lima lançava “O Republicano” (órgão dos interesses do povo e de todas as idéias de liberdade), como constava do seu cabeçalho. Em 1889, apareceram “O Lidador” e o “Escudeiro”. Em 1903 “A Alavanca”, o semanário que marcou época, editado pela Loja Maçônica Auxílio à Virtude, tendo como diretor o dr. Fidélis de Oliveira e Silva, político, advogado e presidente da Câmara por 12 legislaturas (período em que governou o município). No ano seguinte à fundação de “A Alavanca”, 1904, deu-se o aparecimento de “O São Fidélis”, órgão republicano, dirigido por Ribeiro de Amorim, com o formato 1/2, 4 colunas, existindo ainda coleções desse jornal de1924 a 1938. Também como órgão do Partido Republicano Fluminense tivemos, em 1909, “O Município”, e a seguir, em 1914, novamente “O Fidelense”, órgão do Partido Conservador (Republicano), sendo proprietário Sanches & Cia., e diretorgerente, Antônio A. Porto, com redação na Rua do Sacramento n.? 7. Nos anos de 1915-1916 até 1920, prosseguia “O São Fidélis”, semanalmente, tendo como diretor-proprietário Lourenço Deserto, sendo as suas oficinas e redação na Rua Dr. Alberto Torres n.? 7.
“A Reforma”, semanário da Associação Fidelense de Agricultura e Comércio, dirigido por Joaquim Heizer Nogueira da Gama (Quincas Gama), seu redator-chefe, apareceu em 1919, ficando a sua redação localizada na Rua Dr. José Francisco de Oliveira e Silva. O Colégio Bitencourt Silva, de São Fidélis, que se instalara na Avenida Voluntários da Pátria, no antigo Solar do tio de Euclides da Cunha, major Candido José de Magalhães Garcez, publicou o “Alvor”, a partir de 25 de maio de 1920.
Em 1927 veio à luz o número inicial de “A Ordem”, também semanário, no dia 20 de novembro, tendo como diretor M.C. Pontes, concorrendo com “A Defesa” do dr. Fidélis Sygmaringa Seixas, que tinha como redator o poeta e jornalista Santos Júnior, e “O São Fidélis”, dirigido por Atanagildo Amorim. Esses eram em 1928 os jornais existentes. Um ano após a Revolução de1930, isto é, em 1931, ressurgiu “A Luz”, com os seus antigos dirigentes, que em 1929 deram início a sua circulação como órgão político, e sob a orientacão do dr. Fidélis Sygmaringa Seixas e Emídio Maia Santos e Santos Júnior.
” São Fidélis” em 1932 ainda existia, e “A Lucta” pela terceira vez voltou a circular. “O Fidelense”, o primeiro jornal publicado em nossa terra, também pela terceira vez voltou à circulação, tendo como diretor o dr. Theodoro Gouvêa de Abreu.
Nos anos de 1962 e 1963, tivemos “O Fidelense”. O poeta e jornalista Antonio Augusto de Assis (A.A. de Assis) no ano de 1963 fundou e dirigiu “A Tribuna de São Fidélis”. “O Fidelense” reiniciou as suas atividades em 1973 até 1974, sob a direção de Dirlei Perlingeiro de Abreu.
Anteriormente, em 1969, em 23 de julho, foi publicado o jornal “A Ordem”, sob a orientação da Organização de Desenvolvimento Municipal.
De 1975 a 1977 circularam “A Tribuna Fidelense” e “O Fidelense”, o primeiro dirigido por Felício Gama e o último pelo Dr. José átila Campos Valente.
Em 1980 tivemos “O Vigilante”, de Carlos Rodrigues da Silva, ex-diretor da Rádio Difusora de São Fidélis, a nossa primeira Rádio. No ano de 1983, “O Impacto”, da Editora Artes Gráficas; em 1985 “Novo Rumo”, órgão do Colégio Estadual São Fidélis. Registramos ainda “O Cupido”, órgão humorístic o, crítico e noticioso de Lourenço Dezerto, publicado em 1910.
Estamos em 1987 e o nosso município emudeceu. Os jornalistas fidelenses, que sempre mantiveram a chama do “sexto sentido de um povo civilizado”, desapareceram, outros quedaram desiludidos pelas incompreensões, outros ainda foram lutar em outras plagas, onde são exaltados, como o poeta e jornalista Antônio Augusto de Assis (A.A. de Assis), “fidelense” em Maringá, no Estado do Paraná.
Autor: Aurênio Pereira Carneiro