Tragédias e discursos.

18 de dezembro de 2013

A prática é recorrente. Logo após tragédias naturais de graves proporções, autoridades políticas vêm a público anunciar medidas para remediar a situação e prevenir novas emergências e mortes. Tal roteiro foi recentemente cumprido pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).

Na semana passada, quando três pessoas morreram e mais de 4.000 famílias foram desalojadas por causa das fortes chuvas na capital e na Baixada Fluminense, Cabral anunciou a criação do Gabinete Integrado da Baixada. O órgão teria a função de “otimizar recursos materiais e humanos” na mitigação do impacto das enchentes.

O governador propôs também, em encontro com o ministro Francisco Teixeira (Integração Nacional), a implementação de uma força-tarefa para limpeza de ruas e casas das regiões mais afetadas

Diante de uma calamidade, é de esperar que o governante de turno aja com firmeza e procure apresentar remédios imediatos, além de estratégias preventivas para o futuro. Mas a experiência das temporadas de chuvas passadas mostra, infelizmente, que os mandatários limitam suas ações, no mais das vezes, ao campo infecundo das promessas vazias.

Tome-se o programa Morar Seguro, anunciado em 2010, pelo mesmo Cabral, como o maior projeto de contenção de encostas e de retirada dos moradores de áreas de alto risco no Rio geralmente famílias de baixa renda, que vivem em habitações precárias. A iniciativa foi resposta aos deslizamentos de janeiro daquele ano na cidade de Angra dos Reis, nos quais mais de 50 pessoas morreram.

Em janeiro seguinte, quase mil pessoas perderam a vida na região serrana do Rio na que é considerada a maior tragédia decorrente de causas naturais no país. Cabral reforçou a promessa de auxílio e falou em até R$ 1 bilhão destinado à construção de casas populares.

Apesar de ter recursos garantidos há um ano e meio, somente R$ 2,5 milhões já foram empenhados no programa, sem que uma moradia sequer tenha sido construída.

Não faz sentido, portanto, que o governador culpe apenas “décadas de abandono” pelos resultados das recentes enchentes. Tampouco é razoável que Cabral note, a partir de sua gestão, um Estado mais preparado para lidar com esse tipo de desastre basta cotejar sua declaração com o histórico recente.

É lamentável que, por mais um ano, o poder público não tenha se esforçado em investir nas obras de prevenção e remoção dos moradores de áreas de risco. Já deveria estar claro para as autoridades em todos os níveis da administração que seus discursos são resposta insuficiente para evitar tragédias.

TRAGEDIA NOVA FIBURGO 15.01.2011/ ESTADO CIDADES/ Com a forte chuva que caiu hoje á tarde na cidade de Nova Friburgo, as Ruas viram rios,alguns carros ainda permanece no mesmo local, e outros foram arrastados, deixando os moradores preocupados mais uma vez. FOTO JOSE PATRICIO/AE


Editorial: Folha de São Paulo






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