A prática é recorrente. Logo após tragédias naturais de graves proporções, autoridades políticas vêm a público anunciar medidas para remediar a situação e prevenir novas emergências e mortes. Tal roteiro foi recentemente cumprido pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).
Na semana passada, quando três pessoas morreram e mais de 4.000 famílias foram desalojadas por causa das fortes chuvas na capital e na Baixada Fluminense, Cabral anunciou a criação do Gabinete Integrado da Baixada. O órgão teria a função de “otimizar recursos materiais e humanos” na mitigação do impacto das enchentes.
O governador propôs também, em encontro com o ministro Francisco Teixeira (Integração Nacional), a implementação de uma força-tarefa para limpeza de ruas e casas das regiões mais afetadas
Diante de uma calamidade, é de esperar que o governante de turno aja com firmeza e procure apresentar remédios imediatos, além de estratégias preventivas para o futuro. Mas a experiência das temporadas de chuvas passadas mostra, infelizmente, que os mandatários limitam suas ações, no mais das vezes, ao campo infecundo das promessas vazias.
Tome-se o programa Morar Seguro, anunciado em 2010, pelo mesmo Cabral, como o maior projeto de contenção de encostas e de retirada dos moradores de áreas de alto risco no Rio geralmente famílias de baixa renda, que vivem em habitações precárias. A iniciativa foi resposta aos deslizamentos de janeiro daquele ano na cidade de Angra dos Reis, nos quais mais de 50 pessoas morreram.
Em janeiro seguinte, quase mil pessoas perderam a vida na região serrana do Rio na que é considerada a maior tragédia decorrente de causas naturais no país. Cabral reforçou a promessa de auxílio e falou em até R$ 1 bilhão destinado à construção de casas populares.
Apesar de ter recursos garantidos há um ano e meio, somente R$ 2,5 milhões já foram empenhados no programa, sem que uma moradia sequer tenha sido construída.
Não faz sentido, portanto, que o governador culpe apenas “décadas de abandono” pelos resultados das recentes enchentes. Tampouco é razoável que Cabral note, a partir de sua gestão, um Estado mais preparado para lidar com esse tipo de desastre basta cotejar sua declaração com o histórico recente.
É lamentável que, por mais um ano, o poder público não tenha se esforçado em investir nas obras de prevenção e remoção dos moradores de áreas de risco. Já deveria estar claro para as autoridades em todos os níveis da administração que seus discursos são resposta insuficiente para evitar tragédias.
Editorial: Folha de São Paulo