Uma reflexão baseada na obra de Euclides da Cunha: “Sertão Moderno”.

16 de dezembro de 2012

Unha. O que antes era curtida pelo sol e barro, hoje transcorre esmaltada em cores variadas e cintilantes. Unha, que rasgou o véu dessa terra e como encravada no chão contou histórias das mais diversas. Umas tristes, outras de valorosos embates entre o ego e o coração, mas narrou-as todas, entre pontos e parágrafos, desbravou sertões, desvendou matas. Entre mandacarus e borrachas deixou seu presente, a cunha. Instrumento de suporte, preenchimento e trava. A cunha serve para completar o pouco que falta.

Assim foi Euclides da Cunha, homem solitário que em seus conflitos sociais viveu e vivenciou um Brasil de contos, farras e farrapos. Viu tombar em solo árido corpos que acreditavam poder mudar o diferente, viu gente como a gente, que acreditavam nos conselhos de Antônio, em fazer justiça do social. Nas mazelas da caatinga, onde entre ribeiras e esporões, espinhos cortantes da alma humana dilaceravam corações do caboclo já oprimido pelo dono da fazenda.

Antônio Conselheiro fez vibrar o tom da sua voz, mas não vibrou mais alto que o estampido do bacamarte. Seu pensamento livre voou, mas seu corpo tombou ao chão junto com seus seguidores. Euclides viu e durante toda sua vida reviu e reviveu. Por mais que, já consagrado, Euclides da Cunha tivesse juntado canudo e canudo, nenhum lhe traria mais dor que Canudos.

Donde todo fato relatado, seu gesto enquanto cadete da escola militar ao derrubar seu mosquete em repúdio à Monarquia se repetira no enfrente do sertão. Um velho, dois adultos e uma criança. Os últimos a tombarem ao solo mãe. Hoje, nosso sertão é latente.

Entre paredes de concreto, carros importados e fios que encurtam as distâncias humanas, o homem, sertanejo da era moderna, ainda sofre com as mazelas e desigualdades sociais.

Brasil, até quando irás resistir aos corruptos que o governa? Quem será o Antônio do século XXI? E que conselhos, esse Antônio Conselheiro da era digital, dará ao cyber mundo? Nosso “Canudos” será pelas redes sociais?

Nosso levante surgirá em uma campanha pelo Facebook, tendo convocações feitas pelo Twitter e o povo vibrando para colocar #CANUDOS2012 como Trend Topic’s do mês.

Enquanto nos emburrecemos nos teclados e chat’s dessa sociedade virtual, meu voto na urna eletrônica a qual me informa: seu voto foi computado, muito obrigado, emite-se um tin nim e, infelizmente, eu que ainda sou minoria pensante, vou pagar pelo analfabetismo social de um povo subserviente, humilhado, oprimido, mas míope pelos cheques cidadãos e planos do engodo populista em que chafurda nesse país.

Há de surgir Euclides de uma nova era que colocará sua Cunha na sustentação de uma sociedade mais igualitária. E que desbravar nossas florestas não seja tão somente traçar uma nova rota em nosso novo smart phone.

Aloisio Di Donato – Jornalista  







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